OPINIóN
Actualizado 13/07/2014
Miguel Nascimiento

Carlos do Carmo, grande figura da cultura portuguesa e um dos maiores fadistas do nosso tempo, foi distinguido, há dias, pela Latin Academy of Recording Arts and Sciences com um Grammy na categoria Lifetime Achievement (prémio carreira). O Fadista Carlos do Carmo é  o primeiro português a receber uma distinção desta importância. Fiquei muito orgulhoso com este prémio! O    Grammy premeia o sucesso de uma longa carreira ? que acaba de completar 50 anos - dedicada ao fado e à divulgação da cultura portuguesa. Por isso, julgo que este "galardão" é também uma homenagem ao Fado e a Portugal. Para além de ser um fadista extraordinário Carlos do Carmo assumiu um papel determinante na bem sucedida candidatura do Fado a Património da Humanidade (Novembro de 2011). No percurso artístico desta voz icónica da música portuguesa está sempre presente a defesa da portugalidade e o estabelecimento de "pontes" com as novas gerações. A prova maior deste seu empenho está no lançamento do disco "Fado é Amor" que conta com a participação de muitos intérpretes deste tempo novo do Fado. É precisamente com amor e com o estímulo às novas gerações que este grande fadista celebra 50 anos de carreira dedicados a um dos grandes pilares de qualquer civilização: a cultura! Portugal fica a dever-lhe este seu empenho na canção, na cidadania e, fundamentalmente, no prestígio e entrega à candidatura do nosso "Fado" a Património da Humanidade. Carlos do Carmo tem um estilo muito próprio que revela uma mistura de afectos musicais que atravessa continentes, desde a canção francesa à bossa nova, passando pela eterna admiração por Frank Sinatra e, naturalmente, pela forte influência de sua mãe, a grande fadista Lucília do Carmo. A 19 de Novembro deste ano Carlos do Carmo subirá ao palco do MGM Las Vegas, nos Estados Unidos, para receber o Grammy Lifetime Achievement Award! Fiquerei orgulhoso, outra vez! O fadista das "Canoas do Tejo" diz que é "preciso defender o fado com unhas e dentes" e que o "fado não se condoi. Tem de se cantar com paixão". Carlos do Carmo tem ainda uma outra faceta que quero destacar. Apesar do brilho das luzes, dos aplausos e dos palcos, nunca se esqueceu de olhar atentamente para o mundo que o rodeia. Por isso, diz que depois da notícia do prémio é preciso fazer a festa porque a "música é uma festa". Mas, também diz que um artista não pode perder de vista que é "um cidadão" e que deve ter "intervenção cívica". Recorda que não se deve impor nada a ninguém mas que é preciso "intervir porque conheço pessoas que há três anos tinham trabalho e casa, e agora vivem em casa dos pais, vão comer à sopa dos pobres. Isso é insuportável e humilhante... Por isso não me peçam agora que por ganhar o Grammy esteja calado e não faça ondas para não desagradar aos banqueiros e aos patrocinadores. Não me peçam isso. Agora é tarde". O fadista é assim. Exprime os seus sentimentos. Dentro e fora dos palcos para seguirmos o exemplo de Carlos do Carmo. O fado é saudade, essa palavra portuguesa que não pode ser traduzida. "Fado é amor" como nos diz o seu útimo trabalho. É amor ao fado e às novas gerações a quem este grande intérprete da música portuguesa abraça sempre com o futuro no horizonte. O Fado é poesia. É Portugal. Em 1929 o grande Fernando Pessoa escreveu no jornal Diário de Notícias sobre o Fado e a Alma Portuguesa: "Toda a poesia ? e a canção é uma poesia ajudada ? reflecte o que a alma não tem. Por isso a canção dos povos tristes é alegre e a canção dos povos alegres é triste. O fado, porém, não é alegre nem triste. É um episódio de intervalo. Formou-o a alma portuguesa quando não existia e desejava tudo sem ter força para o desejar". O Fado é o espelho da alma portuguesa mas é também - graças ao esforço de muita gente que ao longo de muitas gerações de poetas, músicos e vozes extraordinárias o interpretou com o coração - um imenso Património Imaterial da Humanidade. Por isso, o fado é amor!
 

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